No dia 22 de março de 1992, a ONU instituiu o Dia Mundial da Água, para colocar em discussão assuntos importantes relacionados a esse recurso natural e ainda divulgou a Declaração Universal dos Direitos da Água (clique aqui e acesse do documento na íntegra) , que é ordenada em dez artigos, que declaram a água faz parte do patrimônio e seiva do planeta; ressalta que os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados e que o equilíbrio e o futuro do planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos.

A Declaração também alerta para o fato que o recurso não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. O documento ainda enuncia: a água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo; a água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada; a utilização da água implica respeito à lei; a gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social e o planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Conversamos com o professor André Rotela - licenciado em geografia pela UFGD e professor do 9º ano do Ensino Fundamental - sobre o tema,  para aprofundar as reflexões sobre a data e o valor da água.

Assessoria da EIC – A Declaração Universal dos Direitos da Água deixa claro que a água tem valor econômico. Como você vê essa perspectiva?

Rotela – As questões ambientais são de extrema relevância no momento atual, quando têm-se agravado de um modo geral. A questão da água, que é um recurso fundamental, na própria fala já identificamos que a tratamos como um recurso e não como um bem. Um recurso sempre está ligado à atividade econômica, algo que pode ser comercializado. É necessário um meio termo entre o que seria um bem e o que seria um recurso porque enquanto a água for um recurso, ela estará disponível àqueles que podem pagar por ela; então, teremos uma distribuição muito desigual do acesso à água no mundo.

Assessoria da EIC –  E quanto ao desperdício e à poluição, o que você alerta a nossa comunidade escolar?

Rotela – Preservar as nascentes, os rios e os mananciais aquíferos é muito importante para que se garanta o acesso não só para o consumo humano, mas também para as atividades industriais, agrícolas e pecuárias. [...] O consumo doméstico representa uma parcela muito pequena do consumo de água geral. A indústria, a agricultura e a pecuária são as maiores consumidoras da nossa água. É necessário criar pontos de articulação entre a iniciativa privada e a iniciativa pública para que seja criada uma solidariedade entre esses dois pontos Só o Estado e a sua regulação não serão suficientes para a preservação da água e nem só a iniciativa privada com seus projetos ecológicos vai dar conta. É preciso uma união entre o setor público e o setor privado para solucionar esse problema,

Assessoria da EIC –  Qual a saída, então, para o desenvolvimento sustentável preservando a capacidade hídrica?

Rotela – Esse é um debate que está presente há um tempo: de que forma é possível continuar produzindo, garantindo qualidade de vida e preservando o meio ambiente. Devemos pensar como a tecnologia e o conhecimento humano podem nos ajudar no sentido da preservação da água, nas situações simples que se pode adotar. Por exemplo: criar reservatórios para a água da chuva e usá-la para lavar o quintal, as calçadas e não usar água tratada para o consumo humano, a ingestão, em atividades domésticas. É possível, também, criar um melhor sistema de escoamento e tratamento da água na cidade, evitando que o esgoto seja despejado em locais impróprios. Então, conhecimento e tecnologias temos, o que falta, às vezes, é vontade política e criação de organizações que façam esse debate de forma ´seria e que tenha disposição para enfrentar alguns interesses.